"A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte."
O fato é que, com ou sem poesia , sempre queremos mais que o suficiente, nunca queremos o que nos basta. Ainda que a letra da música nos inspire a querer sempre mais e melhor - o que em si mesmo não tem nada de errado, muito pelo contrário - até onde vai o limite do nosso desejo?
Lembro que quando era pequena eu desejava ser como meu pai, que para tudo tinha uma resposta e uma piada. Ou talvez como minha mãe, que era linda e tinha o mágico poder de sarar todas as minhas dores (e até hoje o tem...).
Depois fui crescendo e descobrindo que, na verdade, eu queria ser como a minha professora, tão inteligente e respeitada. Que mais lhe faltaria? Em seguida não desejava mais ser ela, mas sim a menina mais bonita da classe. A que arrancava todos os suspiros e de quem todos queriam estar próximos! Aquela que não tinha apelidos, óculos, não era comprida demais e nem possuía um cabelo mais armado que carro de escola de samba.
Queria ser o outro, sempre.
E foi assim durante alguns anos. Até o dia em que aceitei, de bom grado, ser eu mesma, já mais crescida, com formas mais gentis e agradáveis aos olhos. Era inteligente e tinha um bom humor quase ofensivo - ou defensivo, quem sabe.
Mas, mais uma vez, não era o suficiente. Para mim, não bastava ser apenas eu!
Tinha que adquirir habilidades, conhecimentos - natos ou não -, além de coisas materiais. Tinha que saber cantar como a Marisa Monte, fotografar como o Edward Weston, tocar um instrumento como o Hermeto, escrever como o Quintana, ter a grana do Bill Gates, entender tudo de cinema europeu e ser fã do Buñuel, discutir Foucault e saber de cor os poemas do Neruda...!!!
Mas é óbvio que não somos assim, é óbvio que não podemos ter nem ser tudo ao "mesmo tempo agora" e é óbvio que as falhas e incapacidades são parte daquilo que nos torna humanos.
E foi isso que aprendi com o tempo, com os tombos que levei e com os muitos que ainda levarei. Não devemos e não podemos viver tentando ser o que não somos. Sempre teremos fome de algo a mais, uma fome insaciável que, se não for controlada, toma conta e contamina tudo de bom que conquistamos!
Hoje vivo um momento em que sou outra versão de mim, com diferentes prioridades, algumas habilidades recolhidas e outras novas louquinhas para surgir.
E a minha fome? Ela continua lá. E que bom que ainda está viva! Mas o melhor de tudo é que ela não mais me controla.
Fotos: Google